sexta-feira, 18 de junho de 2010

Visões da África

(Tela de Debret)


A visão da África subsaariana na historiografia colonial deixou imagens estereotipadas que resistem até hoje no imaginario coletivo das populações contemporâneas, imagens estas popularizadas nos clichês dos filmes de Tarzan.

Até hoje, na maioria das imagens atuais sobre a África, raramente são mostrados os vestígios de um palácio real, de um império, as imagens dos reis e ainda menos as de uma cidade moderna africana construída pelo próprio ex-colonizador. As imagens geralmente exibidas mostram uma África dividida e reduzida, enfocando sempre os aspectos negativos, como atraso, selva, fome, calamidades naturais, doenças endêmicas, aids, guerras, miséria e pobreza.

No entanto, não faltam imagens que mostrem uma África autêntica em sua múltipla realidade, imagens que possam até criar um sentimento de solidariedade com os países africanos. Essas imagens de uma África autêntica pululam nos testemunhos dos viajantes árabes que se aventuravam nos países da África ocidental entre os séculos IX e XI e dos navegadores portugueses que, no alvorecer da era das navegações no século XV, começaram a se aventurar mais ao sul do continente de forma sistemática.

Todos, árabes e europeus, desenvolveram em seus relatos a verdadeira África que viram em testemunhos oculares. Muitos falaram com admiração das formas políticas africanas altamente e socialmente aperfeiçoadas, entre as quais se alternavam reinos, impérios, cidades-estados e outras formas políticas baseadas no parentesco, como chefia, clãs e linhagens.

Até a véspera da era colonial moderna, era comum encontrar, com facilidade, as imagens positivas sobre a África. A natureza e as paisagens eram descritas com simpatia e lirismo; as mulheres eram consideradas bonitas e respondiam aos cânones da beleza da época, com boa em cereja e curva excitante.


(MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo. São Paulo: Global, 2009)